Os risos pareciam flautas angustiantes a
percorrerem meu corpo, a cidade acordava de seu transe e eu acordava para
nossas lembranças, memórias burlescas que não vivemos, os olhares das pessoas
lá fora me levam até nosso primeiro contato, como viajei ao som de suas
atitudes artísticas e gestos quase infantis.
Eu uma simples professora, ensinando a
programar máquinas, e você a me ensinar a desprogramar a vida, que eufemismo
dizer que não vivemos nossas fantasias, elas eram apenas grandes demais para
serem vividas aqui no plano terrestre, nessa casca dura.
Duro como os brutais desentendimentos, pueris
no vento, que batalhamos banalmente por questões intrínsecas a nossa presença,
o sol não brilhava tanto e os oceanos já choravam lágrimas invertebradas. Você desertou.
Crio aqui do meu apartamento um campo de experiências,
crio em meu rosto um certame de lágrimas, a agenda que tu mandaste, só
fragilizou, ainda mais, meus pés, que cansados tentaram em vão alcançar-te.
Tento em vácuo lhe falar, tento em ode
ultrapassar as barreiras impostas por terceiros, infiéis a nossa comunicação, vândalos
da rotina evolutiva de nossa nobre raça, insalubres seres capazes de
interferências ao nosso amor.
Sua mente poderosa destitui reis e barões com
um único frigir, mas minhas mãos, desestimuladas, não acompanham sua veloz
mente, as rosas murcham ao sentir o aroma do desespero, sentido adquirido e
sustentado pelo meu coração.
De sua boca expressada por uma pena, saem
versos e invernos, tempestades ensolaradas e de festas do outro lado da rua, da
janela de meu quarto lhe assopro vida, da porta de minha casa retiro alegria.
Cansei de estar sempre do outro lado do
quarteirão a lhe esperar, os sonhos são os melhores lugares, é lá que o brilho
da efetividade não nos atinge, é lá que posso ser eu, é em terra longínquas de
nossos desejos que me permito deitar-me em seus braços cansados de cantar
palavras vulgares e lhe mostrar as montanhas espaçosas de nosso amor reprimido.
Exponho-me, tal qual vitrine, em meus dizeres
a ti para que tenhas mais compaixão com ti mesmo, és tu que fugiras sem ao
menos lhe prestar contas, não falo por mim, pois por mim você poderia ter renascido
que essas palavras iriam chegar-te a ti.
És certo que sou um tanto quanto abusada,
exagero nas páginas em branco do caderno que por nada se abrem para viverem a
angustia de não serem mais as mesmas, um dia escrito, a noite não voltará mais
ao cru novelo de lignina.
Deito-me no beiral da noite, ouvindo-te a
cantar imagens plasmáticas em forma de tsunamis, as lanternas bocais das
pessoas não se fecham e mais uma vez espero lhe em meus insanos medos de
enfrentar a realidade.
As reflexões não modelam meu corpo, elas
torturam minha mente com dúvidas e sentires de que falta algo a mais, não és tu
oh rei de minha irís que estás deitado ao meu lado, os pássaros que sobrevoam
aqui são inimigos do vento, o reino despedaçasse e eu apenas desejo teus olhos.
Continuarei a esperar
por ventos melhores, quem sabe um menino não assopre em seus cabelos palavras
de encorajamento para desencarcerar o jubilo de nosso mel, prosseguirei minhas
rotinas diárias de sempre ocultar meus passos que vão em direção aos meus
desejos, aos meus medos, a minha ilusão.
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