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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Canto de estrela


Os risos pareciam flautas angustiantes a percorrerem meu corpo, a cidade acordava de seu transe e eu acordava para nossas lembranças, memórias burlescas que não vivemos, os olhares das pessoas lá fora me levam até nosso primeiro contato, como viajei ao som de suas atitudes artísticas e gestos quase infantis.

Eu uma simples professora, ensinando a programar máquinas, e você a me ensinar a desprogramar a vida, que eufemismo dizer que não vivemos nossas fantasias, elas eram apenas grandes demais para serem vividas aqui no plano terrestre, nessa casca dura.

Duro como os brutais desentendimentos, pueris no vento, que batalhamos banalmente por questões intrínsecas a nossa presença, o sol não brilhava tanto e os oceanos já choravam lágrimas invertebradas. Você desertou.

Crio aqui do meu apartamento um campo de experiências, crio em meu rosto um certame de lágrimas, a agenda que tu mandaste, só fragilizou, ainda mais, meus pés, que cansados tentaram em vão alcançar-te.

Tento em vácuo lhe falar, tento em ode ultrapassar as barreiras impostas por terceiros, infiéis a nossa comunicação, vândalos da rotina evolutiva de nossa nobre raça, insalubres seres capazes de interferências ao nosso amor.

Sua mente poderosa destitui reis e barões com um único frigir, mas minhas mãos, desestimuladas, não acompanham sua veloz mente, as rosas murcham ao sentir o aroma do desespero, sentido adquirido e sustentado pelo meu coração.

De sua boca expressada por uma pena, saem versos e invernos, tempestades ensolaradas e de festas do outro lado da rua, da janela de meu quarto lhe assopro vida, da porta de minha casa retiro alegria.

Cansei de estar sempre do outro lado do quarteirão a lhe esperar, os sonhos são os melhores lugares, é lá que o brilho da efetividade não nos atinge, é lá que posso ser eu, é em terra longínquas de nossos desejos que me permito deitar-me em seus braços cansados de cantar palavras vulgares e lhe mostrar as montanhas espaçosas de nosso amor reprimido.

Exponho-me, tal qual vitrine, em meus dizeres a ti para que tenhas mais compaixão com ti mesmo, és tu que fugiras sem ao menos lhe prestar contas, não falo por mim, pois por mim você poderia ter renascido que essas palavras iriam chegar-te a ti.

És certo que sou um tanto quanto abusada, exagero nas páginas em branco do caderno que por nada se abrem para viverem a angustia de não serem mais as mesmas, um dia escrito, a noite não voltará mais ao cru novelo de lignina.

Deito-me no beiral da noite, ouvindo-te a cantar imagens plasmáticas em forma de tsunamis, as lanternas bocais das pessoas não se fecham e mais uma vez espero lhe em meus insanos medos de enfrentar a realidade.

As reflexões não modelam meu corpo, elas torturam minha mente com dúvidas e sentires de que falta algo a mais, não és tu oh rei de minha irís que estás deitado ao meu lado, os pássaros que sobrevoam aqui são inimigos do vento, o reino despedaçasse e eu apenas desejo teus olhos.

Continuarei a esperar por ventos melhores, quem sabe um menino não assopre em seus cabelos palavras de encorajamento para desencarcerar o jubilo de nosso mel, prosseguirei minhas rotinas diárias de sempre ocultar meus passos que vão em direção aos meus desejos, aos meus medos, a minha ilusão.

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